A contabilidade
está em transformação e os profissionais do setor passaram a ter papel
de destaque também nas decisões estratégicas das companhias.
Se no início dos anos 2000 a função
principal dos profissionais era a prestação de informações para os
órgãos governamentais, agora eles também auxiliam na gestão das
empresas. "Hoje o contador tem um papel mais importante como gestor do
que o de só atender às exigências do Fisco", afirma o presidente do
Conselho Federal de Contabilidade (CFC), José Martonio Alves Coelho. "O
profissional da contabilidade tornou-se um consultor do empresário. É
ele quem está preparado para entender às necessidades das empresas e
auxiliá-las a tomar decisões", concorda o presidente do Sindicato dos
Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP), Jair Gomes de Araújo. A
globalização no mundo dos negócios foi um dos pilares que levaram a essa
mudança.
O fato é que os contadores e
contabilistas - profissionais com formação superior e com técnico em
contabilidade, respectivamente - têm um diagnóstico completo da
companhia e conseguem contribuir de forma mais efetiva nas decisões
estratégicas - como nas definições de investimentos, por exemplo. Além
disso, a adoção no Brasil das normas internacionais de contabilidade
IFRS (International Financial Reporting Standards) também trouxe grande
impacto para essa categoria. "A globalização gerou a necessidade de
harmonização das normas contábeis, o que teve forte impacto para os
profissionais da área", considera o presidente da Federação dos
Contabilistas do Estado de São Paulo (Fecontesp), José de Souza. "Temos
um grande desafio na consolidação da convergência das normas brasileiras
de contabilidade às normas internacionais, as IFRSs. O cenário
econômico mundial, afetado pela crise no Leste Europeu, pode gerar
reflexos para o meio empresarial e, por consequência, para o setor
contábil", complementa Araújo. "Vivemos um momento único na
contabilidade. O pleno andamento e a adoção das normas internacionais
provocaram uma grande mudança cultural nos profissionais contábeis, as
quais incluem a necessidade de relacionamento internacional com outros
profissionais da área", lembra o auditor Claudio Avelino Mac-Knight
Filippi, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de
São Paulo (CRC-SP) e sócio da empresa PricewaterhouseCoopers. "O Brasil
acordou após um sono de 30 anos no campo dos padrões contábeis e em
2008, através da Lei 11.638/07 e dos pronunciamentos técnicos (CPCs),
iniciou a chamada convergência para os padrões europeus, o IFRS. Para
aquecer ainda mais, o País introduziu em 2007 o Sped (Sistema Público de
Escrituração Digital", comenta Geuma Nascimento, sócia da Trevisan
Gestão e Consultoria.
Tecnologia
Com a entrada em vigor do Sped, os
contadores também tiveram que se adaptar às novas tecnologias para
atender a essa demanda do Fisco. "Hoje há um envolvimento muito grande
do profissional de contabilidade com a área de tecnologia, porque ela se
tornou fundamental no trabalho deste profissional", afirma o presidente
do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de
Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo
(Sescon-SP) e da Associação Profissional das Empresas de Serviços
Contábeis de São Paulo (Aescon-SP), Sérgio Approbato Machado Júnior.
"A chegada da tecnologia introduziu
informatização em todas as áreas, inclusive na contabilidade, e muitos
tiveram o desafio de se atualizar para uma nova era", diz Filippi. "O
profissional de contabilidade hoje tem que ser multitarefa. Ele tem que
conhecer as leis e a tecnologia e atuar também como um gestor", diz
Approbato. Além disso, para garantir que os serviços sejam prestados de
forma segura e correta, esse profissional tem que passar por uma
atualização constante. "Os profissionais devem ter uma atualização
contínua em todos os aspectos, técnicos e comportamentais, para lhes
facilitar o convívio com culturas e valores organizacionais distintos",
diz Geuma. Neste sentido, as entidades de classe têm tido papel
fundamental, com a realização de cursos, palestras e seminários. "A
contabilidade exige do profissional atualização constante, porque todos
os dias a legislação apresenta novidade. O contabilista se forma, mas
nunca pode deixar a sala de aula", destaca Araújo.
Aliás, a falta de qualificação é um dos
principais problemas enfrentados na contratação de profissionais no
setor, que está ganhando visibilidade a cada ano. Prova disso é que em
2004 a categoria contava com 359 mil profissionais ativos nos conselhos
regionais de contabilidade. Em 2011, último dado disponível, eles
somaram 487 mil. E a tendência é de seguir em expansão. O último exame
de suficiência (teste que permite o exercício da profissão, assim como o
exame da OAB para os advogados), por exemplo, contou com 48 mil
candidatos em todo o País. "O exame é uma forma de melhorar o ensino no
País", afirma o presidente do CFC. De acordo com ele, o exame é
quantificado e apresentado para as instituições para dar um retrato de
como os alunos estão saindo das faculdades. "É a nossa contribuição para
garantir que haja um ensino de qualidade", afirma. Além disso, a falta
de contadores que falem um segundo idioma é uma das deficiências dos
profissionais do setor, especialmente com a convergência para normas
internacionais.
Texto de Gilmara Santos, publicado no DCI - 25.04.2014
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